domingo, 15 de setembro de 2019

"Eu fiz um livro mas, 
oh meu Deus, 
não perdi a poesia." 

(Adélia Prado)



Manhã de domingo.
O sol arde sob o céu azul
como se fosse urgente
derramar toda a sua luz.
Algumas lembranças se insinuam
e eu quase não consigo abrir os olhos.
Viajo pra dentro sem medo do relógio.
Já houve um tempo de delicadezas,
tempo de afetos, capim cidreira
perfumando o quintal,
sms dizendo "pensei em você
com todo o meu pensamento".
Escrevo um silêncio e ele diz tanto.
Olho alguns cadernos antigos,
as últimas folhas rabiscadas
testando a tinta da caneta ou
reclamando da chatice da aula.
No meio das desinformações
um poema do Quintana.
Tenho achado o mundo
muito tecno-ilógico
(quem inventou esse termo?).
Metade de setembro
e nada das cigarras.
Por isso essa demora da chuva.
Por isso os ventos de agosto
insistem em nos empurrar.
Se o que escrevo não faz sentido,
pouco me importa.
Mas, me responda,
faz sentir?
Não sei quem é você
que está lendo isto aqui
mas, de alguma forma, penso em você
e te mando um abraço de um
jeito que eu inventei. 


(Wendel Valadares)
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Ps.: Foto de 2013, lançamento do meu livro A tradução do silêncio.

2 comentários:

  1. Dizer q o texto e lindo, chega a ser clichê!!
    Suas palavras são tão singelas, meigas e ao mesmo tempo retratam o cotidiano com tanta poesia, romantismo.....q me deixam sem palavras. Muita lindeza!♥️♥️

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