sábado, 24 de março de 2012

Reconfortante

Estou exausto, excessivamente esgotado,
Cansado de tantas tentativas vãs, inúteis,
Tenho as mãos já trêmulas e a visão turva,
Meu rosto tostado pelo sol fulgurante
Revela nitidamente a minha fadiga.
Caminhei uma vida inteira sem rumo
E é como se eu nunca tivesse saído do lugar,
E eu preferia nem ter saído, mas parti.
Minha sede me deteriora aos poucos,
Mas não é de água, ai quem me dera o fosse,
Beberia um rio inteiro e os seus frescores,
Minha ganancia não é deste mundo,
Tenho sede de uma verdade extramuros,
Um elixir místico, nascido de fontes raras.
Estou cansado e hoje faz um calor varonil,
Meu animo evapora e se esvai cada vez mais,
E as pessoas vazias me sugam os sucos da alma.
Estou farto dessa gente fútil e estéril,
De cabeças e corações ocados,
Dessa facilidade superficial que impera,
E por causa disso eu sofro e padeço só.
Ninguém me suporta, nem eu mesmo,
Não sou mais solicitado, convidado,
Passo longe de ser escolhido,
Fui abandonado às minhas verdades
E filosofias particulares.
Será que é justo o que preço a ser pago?
No auge da solidão e da carência eu clamo:
Deem-me um abraço e só,
Se sou ouvido, não tenho certeza,
Mas que não me atendem, afirmo.
Ó pai, pergunto a Vós, já que me quisestes,
Por que, pra que, pra quem?
E a resposta me vem antes da interrogação:
- Pra mim.
Que conforto me dá quando me falas
Meu caminho e meu fim és Tu,
Não foi em vão a estrada que andei,
É que a chegada ainda se adia,
E o sentindo só é alcançado
Quando a caminhada atinge o ápice.
Vou viver e padecer no isolamento,
Vou percorrer sozinho todas as estradas,
Vou consolar meus prantos e
Entoar meus risos só pra mim,
Mas não vou me contradizer,
Há uma voz dentro de mim que grita:
Continua, é por aí mesmo,
E eu escuto e sigo.

(Wendel Valadares)

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