sexta-feira, 28 de julho de 2017

ESPANTO

                                         Imagem: © Luis C Lira


Quando no meio da noite
ouço o barulho de trovões
sinto meu coração
estremecer de saudade.
Estar vivo é mesmo incrível!
Pela direção do vento
minha avó sabia dizer
se a chuva seria forte ou mansa.
Eu a olhava admirado,
achando incrível o poder que ela tinha
de domar o tempo:
- Vou pegar as velas, porque
a chuva de hoje é brava.
Abria a porta e deixava
os cachorros entrarem
para dormir dentro de casa.
Nenhum latido enquanto a gente cantava:
"A treze de maio na cova da Iria
no céu aparece a Virgem Maria".
O som da água batendo
forte sobre o telhado,
trovões partindo o céu ao meio
e todos nós sentados, como filhos obedientes
de um Deus colérico.
Nossa Senhora das Dores
rogai por nós,
mantêm nossa casa de pé.

(Wendel Valadares)

2 comentários:

  1. Eu acho que ler Grande Sertão tem feito despertar teus melhores lados. Inclusive aqui, na escrita. Essa poesia de hoje me trouxe uma imagem tão forte. Viva. Crua.

    Você respingou todo esse sentimento intenso que tem te vestido nos últimos tempos de um jeito lindo, amigo.

    Deus abençoe você e todas as lembranças da sua vozinha.

    Um beijo meu.

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  2. Wend, querido...

    eu acho que as avós de agora, moças de antigamente, já nasciam para ser avós, não dá essa impressão?

    Acho mesmo e que também elas possuem essa coisa Roseana no olhar e na fala. Dia desses eu li no facebook de um professor meu das antigas em que ele falava sobre as horas, de como seria o Rosa, e eu incluo as avós, respondendo sobre que horas são. "O relógio do sol está sovando a corcova do morro."

    Foi assim que me senti aqui, Roseando, Rosendo as horas e o tempo.


    Grande abraço

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