quinta-feira, 26 de novembro de 2015

DAS COISAS QUE SÓ QUEM NOS CONHECE BEM CONSEGUE ENTENDER

                                    Imagem: Alex Stoddard

- O mundo é injusto comigo, mãe!
As coisas nunca foram fáceis pra mim.

- O mundo é injusto com todos, meu filho.
E só os covardes e acomodados
acham as coisas fáceis.

(Wendel Valadares)

terça-feira, 24 de novembro de 2015

                                     Imagem: © Richard Desmarais


[...] Mas há também aquela
luz que faz a vida continuar. 

É a luz da esperança. 

(Wendel Valadares)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

POR ENQUANTO

"E se estou adiando começar
é também porque não tenho guia."

(Clarice Lispector, in: A paixão segundo G.H.)

                                       Imagem: © Joel Robison

E se estou adiando escrever é também porque o silêncio tem me abraçado com delicadeza. E ando tão saturado de palavras vazias que comunicam, mas não comovem, não tocam, não transcendem. Às vezes a gente se perde num amontoado de palavras que, no fim das contas, não significam nada. É também porque tenho prestado mais atenção naquilo que não merece texto, naquilo que passa desapercebido. É também porque tenho convivido mais com minha poesia antes de pronunciá-la, antes de torná-la pública. Tenho procurado o poema que conversa comigo, o poema que sacia fomes que eu não imaginava possuir.

E se estou adiando chorar é também porque tenho experimentado inúmeras pequenas alegrias. Não é assim que se constrói a felicidade, unindo milhares e milhares de pequenas alegrias? É também porque tenho tentado ser forte, embora reconheça o poder de cura das lágrimas. E tenho tido alguns motivos pra chorar e a vida tem batido com muita violência e as pessoas - algumas- têm sido cruéis ao extremo, mas no momento estou buscando novas maneiras de superar as dificuldades, estou dando mais atenção ao que motiva meu riso. Às vezes um sorriso, por mais pequeno e amarelo que seja, muda o rumo das coisas e, de repente, a gente descobre que é mais forte do que imaginava.

E se estou adiando caminhar é também porque não tenho mapa e, nem sempre, a intuição funciona. É também porque preciso dessa pausa pra retomar o fôlego e desfrutar das companhias que encontrei ao logo dos anos. É também porque preciso chegar em mim antes de sair pelo mundo. Preciso entender que a estrada mais bonita é aquela que nos conduz a nós mesmos e que, é preciso admirar-se como se admira uma paisagem. Às vezes a gente presta tanta atenção nas flores que esquece de cultivar o jardim da alma. A gente esquece de desabrochar.

E se tenho adiado fazer algo é também porque a vida têm acontecido agora, nesse instante, no exato lugar onde estou.

(Wendel Valadares) 


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A FORÇA DO AMARELO



                                   Imagem: © Weston Clark

Mantenho os pés na estrada
e, apesar da chuva forte
e dos ventos contrários,
prossigo.

Persigo um sonho, um ideal de menino,
uma utopia que me invadiu o coração
numa quinta-feira à tarde
de um dia que se perdeu
na memória.

Faz sol em algum lugar do mundo.
Em algum lugar do mundo
um girassol se inclina
em direção a luz.
Em algum lugar do mundo
o amarelo revela seu esplendor.
Em algum lugar do mundo
alguém também persegue
um sonho.

E assim, milhares
de pessoas perseguindo
milhares de sonhos
e milhares de girassóis
buscando a luz
e milhares de amarelos
revelando seu esplendor
e milhares e milhares
de outros pequenos milagres
acontecendo sem cessar
garantem o funcionamento
do mundo.

A esperança é uma flor amarela
num dia de chuva.

(Wendel Valadares)



domingo, 15 de novembro de 2015

PRECE

"Se quiseres podes,
se quiseres podes 
Dar-me nova vida, 
mudar minha história..."

(Se quiseres - Fábio de Melo)


                                         © Lorena Gazzotti

Senhor, dai-nos Tua Paz.
Fortalece nossa esperança.
Sacia nossa sede. 
Muda os nossos corações.


"Jesus, eu confio em Vós". 



terça-feira, 10 de novembro de 2015

"ESTADO DE POESIA"

                                     Imagem: © Joel Robison

Ele tinha os pés na estrada, menino-homem-pássaro, era aficionado por abismos. Tinha um par de asas que buscavam sempre novos ventos, novas paisagens, novas passagens. Sofria por ser grande, aprendera com Manoel de Barros a importância das coisas insignificantes. Sonhava com passarinhos e girassóis. Às vezes era azul. De vez em quando era pedra, mas na maioria dos dias, flor. Chovia por dentro quase todas as noites, mas não tinha medo do sal. Cultivava um arco (na) íris. Sorria sempre que podia: sol-riso. Iluminava, embora gostasse do escuro. Era transparente e misterioso, chegava a ser estranho, mas era simples. Tinha percepção aguçada para borboletas e era devoto do amarelo.Tinha saudade e afeto ilimitados. E uma angústia sem nome que o consumia. Cantava, ainda que desafinado. Um dia leu um poema sobre a Pasárgada e foi embora "ser amigo do rei". Desde então começou a ter febres e só melhorava quando escrevia. Dizem por aí que perdeu a razão, pegou doença de doido. Acho que foi mordida de poesia. In-felizmente, não há cura. 

(Wendel Valadares) 


*Título: Chico Cesar

domingo, 8 de novembro de 2015

TRISTESSE

                                         Imagem: © Cameron Bloom

Queria escrever T R I S T E Z A,
mas o coração pedia T R I S T E S S E.

Tristesse. Tristesse.

Então, eu deixei pro Milton. Canta pra mim, Bituca:


Como você pode pedir
Pra eu falar do nosso amor
Que foi tão forte e ainda é
Mas cada um se foi
Quanta saudade brilha em mim
Se cada sonho é seu
Virou história em sua vida
Mas pra mim não morreu
Lembra, lembra, lembra, cada instante que passou
De cada perigo, da audácia do temor
Que sobrevivemos que cobrimos de emoção
Volta a pensar então
Sinto, penso, espero, fico tenso toda vez
Que nos encontramos, nos olhamos sem viver
Pára de fingir que não sou parte do seu mundo
Volta a pensar então
Como você pode pedir...

Compositor: Milton Nascimento/telo Borges

Pra ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=Wp50oiNR5PU

sábado, 7 de novembro de 2015

"NENHUM VERSO EM DEZEMBRO"

"novembro é esta vontade de beber flores".

(Kha Tembe)


                                       Imagem: © Joel Robison


"Quase dezembro e nenhum verso". Leio Adélia e me sinto menos deus, menos sábio. Me sinto livre para não escrever, ainda que a palavra me venha à boca com gosto de fel. Ainda que a poesia se derrame através dos meus dedos. Me sinto livre porque também sou humano, porque também tenho dores e sangro vez em quando. Quase dezembro e eu só penso em desaparecer, sem morte, sem drama, sem despedida. Penso em engolir o dia e adentrar uma noite interminável e repor o sono que perdi enquanto escrevia para salvar o mundo e perdia minha vida. Quase dezembro e mal consigo ler, porque há também o cansaço, a preguiça e a resignação. Há a fadiga, o peso de encarar a realidade depois de dias mergulhado num romance onde a felicidade parecia tão simples. 
Mas há também a loucura, aquela que me faz olhar pedra e ver flor, olhar estrada e ver flor, olhar homem e ver flor. Quase dezembro e há um jardim nos meus olhos e então o mundo floresce, incessantemente. Quase dezembro e nenhum verso escrito, mas um poema inteiro acontecendo a cada instante, em cada canto, no mundo inteiro. 

Quase dezembro. Quase dezembro. É novembro e ainda assim vale à pena existir. 

(Wendel Valadares)


~

* Titulo: Adélia Prado


(IN)TERNO

                                                 Imagem: © Diggie Vitt


E num instante você me visitou dentro de uma
lembrança bonita e eu adornei de afetos o meu melhor
espaço, tudo para que você permaneça por mais tempo.

E num instante eu senti desabrochar o meu riso
mais largo, isento de qualquer responsabilidade, tudo
porque sua presença é o meu presente mais bonito.

E já não importa mais a distância que nos separa,
eu me sinto cada vez mais perto de você. Cada vez
mais dentro – do seu coração.

(Wendel Valadares)

Texto do livro: A Tradução do Silêncio 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

LICENÇA POÉTICA

                                        Imagem: © Joel Robison

Porque te encontrei

[e você disse sim]

todos os poemas de amor

foram feitos pra mim. 

(Wendel Valadares) 

EU TÔ TENTANDO

Da busca incessante pela felicidade
ou
De como administramos mal nosso tempo
ou ainda
Da necessidade de reavaliar nosso modo de vida




                                    Imagem: © Rafa Macías


Queria ser feliz, mas não tenho tempo.
Estou ocupado demais tentando
ser feliz. 

(Wendel Valadares) 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

                                                Imagem: © Felicia Simion

Lua vermelha, disfarçada entre nuvens negras.
O céu é gótico, mas não nos nega sua luz.

(Wendel Valadares)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

SOMOS TODOS HUMANOS

                                       Imagem: © Abdulrahman Alterkait

Perdoa-nos por não sabermos enxergar
a luz por trás da pele. 

Perdoa-nos por nos atermos apenas
à superfície. 



Um lamento pelo racismo que subsiste na nossa sociedade hipócrita.

Que Deus tenha misericórdia de nós.


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

ALÉM DAS PALAVRAS


                                            Imagem: © Thomas M Rodger

Acordo. Você já se levantou.
Arrumo a cama: lençol, colcha,
travesseiros. Sinto a textura
dos tecidos, presto atenção
nas estampas, nos desenhos
- escolha sua, é claro.
Cheiro teu travesseiro e sorrio, 
involuntariamente.

[Te amo sem que seja preciso dizer].

(Wendel Valadares)