Um fim de tarde descansa nossas ausências e num sopro o vento leva embora qualquer desesperança. Viver é antes de tudo a arte de acreditar. Essa dor que desacontece agora inaugura a coragem do próximo minuto e torna possível a espera pelo tempo da delicadeza.
A transição das nuances aquiesce o coração, desabotoando encantos audazes e infindos, que belos, salpicam-se pelos contornos do dia que teima em se esconder. É essa delicadeza que amortece qualquer dor e enleva o coração com suntuosos sopros de alegria.
O Silêncio dessa estrada que inexiste através do horizonte revela segredos de vidas futuras. O amanhã é o real motivo do hoje, esperar pelo próximo amanhecer faz a noite ganhar sentido. O ciclo da vida passa também pelo ciclo de “nós”, do “eu-ontem-hoje-amanhã”.
É nessa calmaria, nesse ato de transpor a fluidez da vida que a energia se ressarce, aplumando o coração com requintes de amor saudável. É a mudez desse enlace que principia maravilhas e antecede as mudanças de tons, conferindo à alternância das estações um matiz de pureza sem igual.
Em meio ao sossego a poesia adentra, aninha-se e colore os recantos da alma com uma esperança insolúvel, uma crença inquebrantável nas coisas boas. O olhar além alinha o coração. O momento silente retraduz o que se camufla nas entrelinhas do horizonte. A mudez da vida nos transforma, afetando mais do que qualquer palavra.
Há tanta sensibilidade resvalada dentro desse fim de tarde, que é possível sentir a maciez do sol se deitando no colo do infinito. De braços abertos o horizonte acolhe os silêncios que dão sentido a cada sentimento.
É assim que a vida prossegue: emudecida.
*Alexandre Lucio Fernandes é artesão de palavras, construtor de lirismos e escreve aqui: Elos no Horizonte