sábado, 20 de julho de 2013

O SILÊNCIO NO HORIZONTE



Um fim de tarde descansa nossas ausências e num sopro o vento leva embora qualquer desesperança. Viver é antes de tudo a arte de acreditar. Essa dor que desacontece agora inaugura a coragem do próximo minuto e torna possível a espera pelo tempo da delicadeza.

A transição das nuances aquiesce o coração, desabotoando encantos audazes e infindos, que belos, salpicam-se pelos contornos do dia que teima em se esconder. É essa delicadeza que amortece qualquer dor e enleva o coração com suntuosos sopros de alegria.

O Silêncio dessa estrada que inexiste através do horizonte revela segredos de vidas futuras. O amanhã é o real motivo do hoje, esperar pelo próximo amanhecer faz a noite ganhar sentido. O ciclo da vida passa também pelo ciclo de “nós”, do “eu-ontem-hoje-amanhã”.

É nessa calmaria, nesse ato de transpor a fluidez da vida que a energia se ressarce, aplumando o coração com requintes de amor saudável. É a mudez desse enlace que principia maravilhas e antecede as mudanças de tons, conferindo à alternância das estações um matiz de pureza sem igual.

Em meio ao sossego a poesia adentra, aninha-se e colore os recantos da alma com uma esperança insolúvel, uma crença inquebrantável nas coisas boas. O olhar além alinha o coração. O momento silente retraduz o que se camufla nas entrelinhas do horizonte. A mudez da vida nos transforma, afetando mais do que qualquer palavra.

Há tanta sensibilidade resvalada dentro desse fim de tarde, que é possível sentir a maciez do sol se deitando no colo do infinito. De braços abertos o horizonte acolhe os silêncios que dão sentido a cada sentimento.
É assim que a vida prossegue: emudecida.

(Alexandre Lucio Fernandes* & Wendel Valadares)

*Alexandre Lucio Fernandes é artesão de palavras, construtor de lirismos e escreve aqui: Elos no Horizonte

PE-DA-ÇOS




O brilho no chão inaugurava uma curiosidade e ao mesmo tempo uma tristeza.
Muitos cacos de vidro espalhados, bem no meio da sala de jantar.
Era só um copo quebrado. Mas não era apenas um copo quebrado.
Os cacos pareciam não serem de vidro. Refletiam radiantes a luz,
mas escondiam marcas de uma noite escura. Marcas de dor.
E lá estava ela, com a voz embargada, limpando as lágrimas dos olhos,
buscando forças não se sabe de onde, mas sem conseguir juntar os tais pedaços de vidro.
Um som ecoava para além do silêncio da madrugada
e repercutia agudo no vazio da casa.
Era o soluço de uma dor que não coube no colo da noite.
De um coração que não queria perder o mesmo amor mais uma vez.
Quantas vezes? Quem é que conta as partidas, quando as chegadas
apagam qualquer passado?

Quando o amor vira dor, só o tempo é capaz de bordar surpresas.
Só a esperança é capaz de mover as águas, saudades dissolutas encharcando lembranças.

E se ele voltasse? E se dessa vez fosse tudo diferente? E se, talvez, quem sabe, um dia, nós...
Abraçou a sua esperança mais forte e enfim foi juntar os cacos espalhados pelo chão.
Pedaços de um coração destroçado sendo reconstruído, mais uma vez.

(Val Santiago e Wendel Valadares)

segunda-feira, 15 de julho de 2013



Depois que os nossos lábios se conheceram você passou a morar no meu sorriso.

Wendel Valadares

O SEU OLHAR



Gastei um caderno inteiro ensaiando cartas e discursos pra dizer o quanto eu te amo.
E aí você chega com esses olhos grandes e me cobre de infinitos. E enche o meu céu de estrelas. E desarruma minhas idéias. E se apropria do meu poema. E se transforma na minha inspiração mais bonita.

Não há palavra que traduza nosso amor.

(Wendel Valadares)

Ao som de Arnaldo Antunes: O Seu Olhar

terça-feira, 9 de julho de 2013

DEPOIS

                                        Imagem: © Christine Ellger

Nem sempre o tempo da coragem é o tempo do amor.
Um minuto depois pode ser tarde demais.

(Wendel Valadares)

INTEGRIDADE

                                        Imagem: © Kayode Okeyode

Hoje suas palavras encontram a casa vazia.
Não moro mais na nossa saudade, nem espero que você toque a campainha.
Estou visitando um afeto tão bonito - dentro de mim - e resolvi não voltar tão cedo para aquele lugar cheio de ausências.

Transformei nossa distância em estrada. E estou caminhando, feliz da vida.
Não adianta correr, seus passos não me alcançam mais.

(Wendel Valadares)

domingo, 7 de julho de 2013

MAR DE DENTRO



Não celebro mais as chegadas,
nem ensaio as partidas.
Toda a minha atenção
está focada no AGORA.

Estou revigorando minhas esperanças,
mas o minuto seguinte é imprevisível
e eu pretendo abraçá-lo
com todas as forças, sem reservas.

Estou desancorando meu barco.
O mar (da vida) é extenso demais
e eu tenho sede de navegar.

Não me prendo mais
às ilhas da solidão.
É na travessia que mora
a alegria do inesperado.

(Wendel Valadares)