domingo, 19 de maio de 2013

AS CARTAS QUE EU NÃO MANDO




Oi. Você está aí, do outro lado? Queria lhe pedir um pouquinho de atenção.
Pedir um pouco do seu tempo, pedir que se ocupe destas palavras que o meu coração resolveu improvisar.
Precisei escrever pra dizer que hoje estou um pouco mais sensível, sentindo tudo por mais tempo, com mais força, com mais intensidade.
Queria lhe contar sobre a minha saudade. Pode me ouvir? Ou melhor, pode me sentir?
É que hoje estou me sentindo meio abandonado, meio sozinho. Sabe aqueles dias em que a gente se sente deslocado do mundo, pois é, hoje eu estou assim, distante de tudo, de mim principalmente. Não é que eu esteja de todo sozinho, tem um monte de gente perto de mim o tempo todo, não é isso. Mas, quero lhe dizer dessa solidão que a gente sente, mesmo estando cercado de pessoas, uma certa solidão acompanhada. Então, é assim que eu estou me sentido.
Precisei lhe escrever porque imaginei que me desmanchando nas palavras, talvez eu encurtasse essa distância que nos leva embora um do outro. Talvez eu te trouxesse de volta. Talvez.
Caminhamos tanto tempo na mesma estrada e justo agora, resolvemos pegar um desvio. Ou foi o desvio que nos pegou? Não há como saber. O que sei é que nos perdemos no meio do caminho e o tempo (ou a falta dele) tem apagado nossos passos. Não é mais possível voltar.
Não é mais possível voltar. Dizer isso quase sangra meu coração. Está tudo apertado aqui dentro.
Aí também está?
Estou sentindo essa distância com muito mais atenção agora, com muito mais cuidado. Aquele cuidado que faltou, quando ainda caminhávamos juntos. Aquele cuidado que pareceu tão insignificante, mas que teria feito toda a diferença. (Teria?)
Não sei. E não quero pensar nas possibilidades perdidas. Imaginar o talvez só causa mais dor, só aumenta a distância.
Precisei lhe escrever pra dizer que estou sensível, mas que estou pensando no agora e em tudo que isso implica: estamos longe demais.
Será que é possível recomeçar? Será que estamos dispostos a recomeçar? Será que saberemos recomeçar?
Essa estrada nos levou embora e agora só as palavras nos aproximam.
Precisei escrever pra dizer que sinto sua falta. Me escreva também, se você sentir a minha falta. Se você se sentir só. Me escreva, caso você queira voltar. Caso você queira que eu volte.
Me escreva, pra eu saber de você. Pra eu te sentir um pouquinho mais perto.
Me escreva qualquer coisa, pra eu não me sentir assim tão só.

Mas por favor, ou melhor, pelo amor de Deus, poste a carta nos correios. Não faça como eu, que estou guardando esta carta numa caixa antiga, cheia de outras cartas que eu nunca enviei, que eu nunca tive coragem de enviar.

Com afeto e com saudades,

Wendel Valadares.


Ao som de Leoni: "As cartas que eu não mando"


4 comentários:

  1. Uau!!! Há três e meio atrás eu me sentia exatamente assim: cheia de talvez, saudades (ainda existe), tantas perguntas e no fundo, um enorme de desejo de recomeçar tudo, de ter uma nova chance. E um dia quando eu menos esperava, o recomeço veio. E está sendo maravilhoso!

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    1. Val, minha flor bonita, tão feliz por você, por essa volta da vida...

      Te abraço..

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  2. Já me senti tanto assim. No momento ainda sinto. Palavras escondidas, guardadas e não enviadas. Só a gente sabe o que sente quando a falta aperta. As palavras engasgadas de abandono... de saudade...

    Linda carta Wendel!!

    Abração!

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    1. Obrigado Alexandre!!!

      Sua presença aqui me salva da inutilidade, me salva do esquecimento.

      Grato...

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