domingo, 29 de julho de 2012

Não se economize



Tanto sentimento contido, encolhido, escondido sendo desperdiçado em nós. Tanta gente transbordando afetos e gentilezas mas se acovardando, se refugiando atrás de uma roupa de individualismo e egoísmo.

Tanta gente que gosta de tanta gente e não admite. Não sabe, não quer, não se permite dar o braço a torcer, voltar atrás, pedir desculpas.
Tanta coisa supérflua e desnecessária tomando o lugar das prioridades, das urgências, das importâncias.
Nós que tanto gritamos liberdade estamos nos tornando escravos da solidão. As pessoas têm sofrido cada vez mais de uma solidão acompanhada. Estão rodeadas de pessoas, mas se sentem cada vez mais só, porque um não sabe aproveitar o outro. Não sabe desfrutar o que o próximo pode oferecer. Estamos entrando na era do individualismo. As pessoas não se precisam mais, ou pelo menos acham que não.
É bonito precisar do outro. Não somos perfeitos e o outro completa aquilo que nos falta. É bonito esperar do próximo, esperar um sorriso, um gesto de gentileza, um carinho, uma lembrança, uma notícia, uma mensagem.
É bom ser surpreendido de vez em quando com uma visita, um telefone, uma carta, um e-mail, um sms. E é bom pensar que o outro também espera isso de mim, que eu também devo surpreende-lo, agradá-lo.
Nós que fomos criados a imagem e semelhança do amor, e fomos criados por amor e para amar estamos nos distanciando cada vez mais do amor.

Se você ama, diga, não se economize!

(Wendel Valadares)



domingo, 22 de julho de 2012

Só para os especiais


Tantas palavras pra dizer uma só verdade: "a amizade é um amor que nunca morre". É bom sentir que isso é verdade e que presencio isto constantemente.
Como é difícil crescer. As ocupações vão tomando o lugar das nossas essências e o que era tão precioso em nós vai ficando em segundo plano, a pureza. Não por escolha própria, mas por necessidade, o mundo exige. Mas o bonito disso tudo é observar a força da amizade e a mística da intimidade. É como se o tempo parasse no fim de cada conversa e depois retomasse daquele mesmo ponto, não perdemos a linha.
É certo que com o passar dos dias alguns nós vão se afrouxando e é preciso apertá-los novamente para que o laço continue firme, mas nada que duas mãos amigas não resolvam.
É bonito isso, essa mística de saber amar de graça. É engraçado porque o outro, até então desconhecido, chega em nossas vidas de uma maneira tão sútil, que até achamos que estivesse ali desde sempre e a intimidade e a afinidade que desfrutamos é tão forte que nem é pecado achar isso.
Amores vão e vem, como deve ser, mas os amigos permanecem ali, sempre com o mesmo amor de outrora, talvez com menos contato, com menos tempo, com menos palavras, mas com o sentimento intacto, porque amigo ama de graça, não precisa de nada em troca para gostar.
E se de repente, no futuro, sei lá, eu não achar uma esposa para me casar, constituir uma família, viver outra vida, eu nem vou estranhar muito, porque experimento o amor de uma forma pura e intensa cada vez que me recordo dos amigos que ganhei, cada um num momento propicio da minha vida, numa hora onde eu só sabia enxergar as perdas. Eles chegaram embalados em papel de presente com laço dourado e um cartão dizendo: isso é o que te faltava pra você ser feliz e seguir em frente. Ass: Deus!
Só para os especiais, só para os de verdade: Amo vocês!

(Wendel Valadares)



sábado, 21 de julho de 2012

Comovente

Vestido de saudade e solidão
Eu me busco nas verdades que plantei.
Viver é delicadamente perigoso
E pressupõe coragens indivisíveis.
A alma canta e os olhos contam,
O passado é agora
E o futuro já foi,
Presente e estar vivo e triste.
Alegre eu fico quando posso,
Mas não conto a ninguém,
Que é pra não assustar.
Coisa boa é crescer e ser criança.

(Wendel Valadares)

Sobre partidas


Eu fui embora da vida de muitas pessoas e, a atenção que essas mesmas pessoas me dedicavam era tanta que até agora não sentiram minha falta. Aliás, acredito que nem perceberam quando cheguei. Procuravam números, quantidade e sistematicamente me incluíram em suas estatísticas, não tinham intenção alguma em absorver o que eu sou ou o que posso oferecer, queriam apenas acumular quantidades para se sentirem cercadas, cheias, protegidas.
 Eu fui embora da vida de muitas pessoas porque não sou apenas um dado geográfico, um número no censo, um índice de população. Tenho personalidade, tenho características peculiares e o que eu procuro nas pessoas é reciprocidade. 
Se eu fui te buscar no seu mundo particular é porque eu estou extremamente interessado no que você pode me oferecer como pessoa, como ser humano, como amigo, jamais fui atrás de alguém querendo popularidade, querendo simplesmente aumentar o meu número de "colegas". Não vou usar a palavra amigo nesse contexto, porque amigo tem outro ritmo, outra frequência, outro sentido. 
Se você veio me buscar, deixo claro que você deve estar disposto e interessado em quem eu sou, no que posso oferecer. 
Amizade é troca, e correspondência, é reflexo. 
Eu fui embora da vida de muitas pessoas, para que eu pudesse permanecer inteiro na vida de poucas pessoas. Poucas pessoas que me querem bem, que não esperam coisas mirabolantes, mas que se sentem bem com o pouco que posso oferecer. 
Eu fui embora da vida de muitas pessoas porque nunca me dei bem com números, qualidade sempre foi o meu quesito preferido.
Se eu permaneci na sua vida e você permaneceu na minha vida, tenho certeza de que as nossas almas se comunicam, nossos olhares se comunicam, nossos silêncios se comunicam, nossas distâncias se comunicam, nosso sentimento é reciproco.
Eu fui embora da vida de muitas pessoas porque assim teve que ser. Uns partem para que outros cheguem.

(Wendel Valadares)


domingo, 8 de julho de 2012

Estação de Julho


Há dias estou diante dessa página em branco, tentado, matutando, me forçando a escrever alguma coisa, que mais tarde venha fazer algum sentido. Os pensamentos se atropelam num congestionamento extenso de sugestões. Estou sensível, sensibilizado, afetuoso e tudo mais que implique sentimentalismo. Tudo isso porque é Julho. Tudo isso porque se aproxima uma data que ano após ano me deixa num estado um tanto quanto incomum, fico mais emotivo que o costume. Estou prestes a completar 25 anos e a trilha sonora que escolho pra me acompanhar nessa data, foi imortalizada no voz da sempre perfeita Elis Regina: “Ontem de manhã quando acordei, olhei a vida e me assustei. Eu tenho mais de vinte anos e eu tenho mais de mil perguntas sem respostas...” (20 Anos Blue).
Tantos questionamentos, tantos almejos trocados por utopias, atropeladas por porções avassaladoras de realidade. Crescer dói e dor implica aprendizado. Ó meu Deus, é um circulo vicioso imprescindivelmente necessário.
Ao longo desses vinte e cinco anos de vida muitas pessoas foram incorporadas à minha personalidade, trazendo um cadinho de essência, que é tão fundamental nessa troca de afetos e bem querências que tão maravilhosamente denominamos “Amizade”. Tantas pessoas vieram com suas verdades, suas histórias, suas levezas e seus pesos, que por hora, até achei fosse um porto onde apenas eram possíveis as chegadas e, quando percebi que também era feito de partidas, algumas pessoas já se haviam ido. Sofri, sofro, sofrerei demais. Fiquei tão acostumado às chegadas que esqueci de me preparar para as despedidas.
Poucas pessoas partiram, algumas por que foi preciso, outras por não terem escolha e, até mesmo por não se adaptarem, não se encaixarem no contexto que eu tinha para oferecer.
É doído ver alguém que você tanto gosta indo embora, dando adeus, deixando apenas a ausência. É doloroso porque temos essa capacidade de nos acostumarmos com o jeito de ser de cada um, temos essa capacidade mística de criarmos afinidade com pessoas que compartilham suas histórias conosco e, afinidade não é deste mundo.
Tenho refletido muito sobre a minha presença na vida das pessoas. Qual o lugar que ocupo no coração das pessoas que “supostamente” eu cativei, se é que eu as cativei de verdade. Qual o tamanho da minha importância na vida das pessoas que me gostam. Será possível calcular essas medidas?!
Vivemos numa sociedade tão rotulada, que os sentimentos foram se camuflando para não serem reprimidos. O materialismo, a superficialidade, a facilidade de conseguir tudo foi tomando o lugar do afeto, do respeito, da simplicidade. As pessoas se limitam no sentir, no gostar, porque perderam a capacidade de acreditar na bondade das pessoas, e com razão. A sociedade não nos ensina a sermos bons, a própria sociedade nos desacredita. Ser bom nos dias atuais pressupõe uma coragem e uma disposição que poucos possuem, ou admitem possuir. É difícil ser bom, dá medo, insegurança. Isso porque a bondade é confundida com qualquer coisa que não seja ela.
Não é que tenhamos nascido na época errada. É só que a época errada não nasceu em nós e, oxalá seja abortada dos nossos ventres.
Gosto de me emprestar ao tempo e fazer esse tipo de reflexão. Gosto de refletir, de tentar me encaixar no contexto de uma maneira mais justa, mais acomodada.
Diante de tantas indagações, reflexões, utopias e outros intentos, só posso terminar este texto com uma prece. Ou seria um agradecimento? De qualquer maneira, uma oração.
Meu Bom Deus, obrigado pelo Dom da minha vida e pela sensibilidade que hoje habita o meu coração e o meu olhar. Obrigado pelo meu sorriso, pela possibilidade de sorrir novamente. Obrigado pelo sonho, pelo desejo, pela vontade. Obrigado pelas pessoas que entram na minha vida e obrigado também pelas que saem.
Que os meus olhos não se cansem de ver a beleza de cada pessoa, a beleza da vida, a beleza do amor, a beleza da amizade. Que o meu coração não se feche, que eu jamais deixe de acreditar que as pessoas podem ser boas, podem ser melhores.
Que haja sempre essência nas minhas palavras e nas minhas ações. Que eu saiba transbordar bondades e que eu seja leve na vida das pessoas. Senhor, que eu faça diferença no mundo, que eu seja sempre encanto e que eu me encante sempre com os pequenos detalhes.
Meu Jesus, obrigado pela minha vida, pela possibilidade de escolher o meu próprio caminho.
Que o meu coração seja sempre doce e que o mundo respeite meu jeito de ser!
Amém.