quarta-feira, 21 de março de 2012

Motivo do pranto

Faz alguns dias eu quero chorar e não sei,
Perdi o tom, perdi o som, perdi as estribeiras,
Mas não perco a vontade.
Enquanto o choro não sair eu não suspiro.
Respiro um ar sujo que vale apenas o sopro do momento.
No meu pulmão miúdo não cabem os dois, choro e ar,
E já não cabem também as palavras de consolo,
Que pra mim de nada servem, aliás, me enfastiam.
Quero chorar três horas sem parar e depois ficar mudo,
Se ninguém olhar pra mim eu choro de novo até cansar,
E quando já não tiver mais lágrimas,
Quero deitar meu corpo exausto cheio de suspiros aliviados
E descansar três dias initerruptamente.
Três dias me bastam para recuperar o fôlego.
Quem me olhar chorando vai me julgar fraco, fresco,
Sentimental, afetuoso, afetivo, afável, louco.
Eu não me importo, eu não ligo, eu nem vejo,
Quero cobrir minhas retinas com as águas salgadas
E regar minhas bochechas, feito cachoeira na cheia,
Quero derreter-me num pranto desesperado
E banhar-me neste vale tenebroso de lágrimas.
Quero chorar sem motivo, com motivo, pelo motivo,
E talvez eu até seja o motivo.
Quanto mais eu guardo o choro, mais ele cresce,
Parece pecado escondido querendo aparecer,
Parece erva daninha no meio da plantação de arroz.
Sorrir é fácil, qualquer um consegue a hora que quiser,
Eu posso estar padecendo em dores e ainda assim sorrir.
Tenho até um sorriso ensaiado que uso pra sair na rua,
Franzo a testa, mostro quatro dentes e meio e
Tento arregalar ao máximo os olhos.
Chorar já não é tão simples assim,
A menos que se tenha vocação para carpideira,
O que não é nem de longe o meu caso.
Eu até tenho o choro, mas ele fica tão bem guardado,
Tão confortável dentro de mim que não sei expulsá-lo.
Chorar pressupõe uma sinceridade que poucos experimentam,
E os raros que me veem chorar, compartilham de uma
Intimidade muito restrita, um universo particular.
Bem aventurados os ombros que acolhem o choro,
Estes sim são dignos da palavra amizade e
Serão reconfortados no momento oportuno.
Mas volto à minha divagação, agora sem muitas teologias,
Filosofias, teorias e receitas prontas, quero chorar,
Derreter meu pranto, entoar o meu lamento.
Quero chorar porque o choro existe, eu não sou triste.
Quero chorar porque dentro dessa armadura que luta
Todos os dias, existe um coração que ainda é de carne.
Quero chorar porque eu não sou mais criança e não tenho
Mais o meu colo seguro e afável.
Quero chorar porque o céu é tão longe e eu o vejo tão perto.
Quero chorar sem ter que explicar o motivo do choro,
Quero chorar até de tanto rir.
Quero me diluir em lagrimas e lavar a alma.
Quero me aliviar inteiro, quero chorar.

(Wendel Valadares)

Um comentário:

  1. é preciso regar o solo no qual vamos plantando sementes em nós,para que possam germinar e dar frutos...ta ai um bom motivo pra chorar,porque necessarios nos é frutificar...

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