sábado, 31 de março de 2012

Intento Nostálgico

Quando eu tinha nove anos chovia fino,
Morávamos numa fazenda urbanizada.
Meu irmão e eu queríamos brincar,
Rouba-bandeira, polícia e ladrão
Ou qualquer outra traquinagem de moleque.
Éramos heróis, artistas e mágicos,
Desenhávamos o sol na areia para chamá-lo
E miraculosamente a chuva cessava.
E quando a gente se cansava de brincar
Desenhava nuvens no chão
E a chuva vinha certeira
Pra gente dormir com aquele barulhinho bom
E o cheirinho de terra molhada.
Lá em casa tinha três quartos, um era o nosso,
Outro da mãe e do pai
E o terceiro era o quarto do medo,
Ninguém tinha coragem de dormir nele,
A noite ele era mal assombrado,
Até assombração eu já vi lá.
Jogávamos o cobertor sobre as duas camas
E acampávamos debaixo das cobertas.
Durante o dia pescávamos muito
Ou andávamos de bicicleta
À sombra dos pés de eucalipto.
Aquela vida era maior que o mundo,
Não nos faltava espaço, ar puro, amor,
Tudo estava ali ao nosso alcance,
Sempre tinha bolo de chocolate.
Quando eu tinha nove anos chovia fino
E hoje quando eu fico triste
Desenho nuvem na areia
E espero a chuva branda,
Sou mágico.

(Wendel Valadares)


Transitório

Hoje o tempo passou mais rápido
Ou eu estava mais devagar, não sei.
Mas quando me dei conta das horas
O dia já havia se esvaído por entre a serra.
Senti saudades do meu pai, mas não liguei,
Estava com fome e fui comer macarrão
E tomar suco de laranja com gelo e açúcar.
Muito educada, a moça pergunta: -Mais alguma coisa?
Sim, por favor, uma dose de gente honesta
E dois copos de dignidade, por enquanto.
A vida é bonita e feia, as pessoas também,
Mas eu não sou o arquétipo perfeito
Onde alguém possa se comparar.
O que posso dizer do mundo, Isso é um poema,
Existe beleza até mesmo nas desgraças.
A tristeza é linda, digo eu, mas choro de dor e sofro,
Uso palavras bonitas pra dizer que tenho medo.
Hoje o dia passou rápido e a noite demora,
Mas não tem problema, a hora é a mesma,
Eu é que estou passando,
Correndo devagarinho.


 (Wendel Valadares)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Adaptável

Adoro os imprevistos,
Gosto das situações inusitadas
Que me arrancam da rotina,
Livram-me da sina, me reanimam.
Gosto de esbanjar a minha capacidade viril
De me adaptar ao novo e me fundir a ele,
Gosto de ser o novo e me sentir renovado.
Minha força nasce de um oásis interior
Que é reabastecido com a demasia da vida,
Gosto de ser exageradamente exagerado,
De passar da conta, de transbordar.
Não sou meio copo, meia verdade, meia força,
Sou tudo e um pouco mais, sou intenso.

(Wendel Valadares)

Saborear

Dê-me lápis, borracha e uma verdade irrefutável,
Quero escrever com toda força meu pensamento voraz,
Sem falsas patologias e sem receita prescrita,
Emprego a sinceridade das letras e o labirinto das palavras
E escondo segredos nas entrelinhas.
Lanço mão da sutileza da poesia,
Não quero o verso pronto, ensaiado,
Quero desabrochar em cada nova sensação
E experimentar o gosto bom de ser e sentir.

(Wendel Valadares)


O poeta ficou cansado

A alegria tão costumeira da sexta-feira
Foi tomada de súbito por uma tristeza indivisível,
De um velório de quem ainda não morreu.
O dia está denso, escuro, enquanto o sol brilha forte,
O calor faz frio, na alma, no peito, na mente.
Ah, quem me dera poder expressar na face
Os intentos e os sentires do meu coração
E deixar transparecer a minha essência,
Pura, límpida, tal qual ela é.
Haveria choro no meu sorriso
E riso no meu pranto.
Um sentimento nostálgico triste e feliz
Movimenta-se dentro em mim
Enquanto eu me estanco nessa terra infértil
Poluída de indiferenças e egoísmo.
Queria ouvir uma palavra bonita, gentileza!
Estou sujo, mas qualquer gota de afeto
Me lava por inteiro e me renova.
Não quero mais me consolar sozinho
E derramar meu lamento no meu próprio ombro,
Já que eu me acho tão amável
Haverá alguém capaz de compreender os meus exageros
E me estender o braço e o corpo inteiro.
Quero um amor, quero um amigo, quero um irmão,
Só não quero mais ser só.

(Wendel Valadares)

quarta-feira, 28 de março de 2012

O tempo

Há uma verdade subentendida na palavra tempo,
Ele age como uma mão intangível que nos cuida
E nos encaminha para o que é nosso,
E o que nos pertence chega a nós, mais cedo ou mais tarde.
Suas pressas e suas delongas, ora nos atormentam,
Mas tudo acontece no momento propício.
Ele não é o remédio, mas cicatriza as feridas,
Não é a borracha, mas apaga alguns erros,
Não é árvore, mas amadurece os frutos – que somos nós –
Não é a vida em sua essência, mas está intimamente ligado a ela.
O tempo é eterno e nós passageiros, peregrinos,
Mas as marcas que deixamos duram uma eternidade.

(Wendel Valadares)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Psicanálise

Não quero encontrar uma resposta válida para os meus porquês
Não quero justificar todos os meus erros – alguns que nem acho que cometi -
Minha vida é drama e comédia
Mas eu não sou o ator coadjuvante, eu danço no palco.
Eu sambo e sapateio no meu ritmo e canto,
Eu digo tudo o que eu preciso,
Eu me arrependo e faço tudo de novo, a mesma coisa,
Que nem menino teimoso, eu teimo.
Não quero me arrepender de não ter dito o que eu queria
De não ter feito o que eu precisava, mas tinha receio,
Quando me arrependo é dos excessos,
Minha medida é mais profunda, é desmedida.
O meu divã é preto, mas a minha vida não.

(Wendel Valadares)

domingo, 25 de março de 2012

Confissão

Eu só queria ser tão forte
Quanto as palavras que eu digo.
 - Só vou gostar de quem gosta de mim;
 - Minha felicidade não depende de ninguém;
 - Não dê valor a quem não te merece;
 - Deixa pra lá, o silêncio é a melhor resposta;
 - Eu não mudo por ninguém;
 - Quem quiser gostar de mim vai ter que ser do meu jeito;
E tantas outras afirmações de amor próprio
Ditas numa tentativa vã de autoafirmação.
Tudo teoria, tudo da boca pra fora.
Na prática acontece o inverso do que foi dito.
A gente pede pra sofrer e estende a outra face,
Por que no final das contas tudo o que nós queremos
É alguém que no tire do lugar e nos devolva pra nós
E lá no fundo a gente tem a infeliz certeza
De que mesmo que essa pessoa que tanto nos machuca
Jamais queira compartilhar da nossa intimidade,
Nós vamos continuar sofrendo, sobrevivendo
E sentindo as mesmas aflições de outrora,
Porque quem toca o coração da gente com profundidade
Deixa uma digital indelével.

(Wendel Valadares)

Carta na manga

Tenho sempre um sorriso novo
Guardado comigo, como uma carta na manga
Sempre quem alguém me lança um olhar indiferente
Eu faço uso desse artificio e sorrio pra quem quer que seja
E se acaso alguém vier com toda ira ou inveja querendo me destruir
Essa pessoa haverá de me ver sorrindo
Porque cada um oferece aquilo que tem!

(Wendel Valadares)


Eu passarinho

Canta passarinho, canta,
E encanta quem ouve o seu cantar.
Canta e me encanta, me levanta,
Me anima, me afina, me leva embora
E me devolve pra mim.
Me empresta suas asas,
Deixa eu sentir o vento sobre mim
E plainar feito folha solta no ar.
Canta passarinho,
Que o seu canto mais triste me alegra,
Canta, que a vida é letra muda
E carece sua melodia,
Passarinho, canta passarinho.

(Wendel Valadares)


Motivo do canto

Eu quero um tom alegre
Pra musicar os meus versos
Uma trilha sonora contagiante
Que me encante e me cante feliz

Quero cantar a vida e o sonho
Quero entoar um som risonho
E encantar quem precisa de amor
Quero tentar esquecer a dor

E quando a melodia for triste
Que a minha voz seja a alegria
Quero cantar o simples e o belo
Quero dor e alegria em harmonia

Vou cantar tudo o que existe
E me embalar nessa canção
E não há força que cesse meu canto
Não há como calar o som do coração

(Wendel Valadares)

Motivo do riso

Hoje o encanto existe
E mesmo tudo que for triste
E toda dor que insiste
Vai se se render ao meu sorriso

Hoje a solidão está aqui comigo
Há dias elas me visita
Mas nem que seja de pirraça
Eu vou sorrir pra mim

Eu mereço um descanso na lucidez
Quero entoar uma melodia alegre
Quero dançar e rir a minha febre
Só por hoje eu vou feliz
E amanhã também

(Wendel Valadares)

sábado, 24 de março de 2012

Poema para eternizar

Passageiro é só tempo
Retalhado em fatias enfastiantes
Cobrando pressa, cumprindo o oficio.
Nós, homens cruéis e perecíveis,
Somos estacas fincadas neste cerne,
Somos farpas afinadas penetrando os radicais
E alterando os prefixos.
Tudo fica, em nós, conosco, pra nós,
Nada se perde, nem para o bem ou mal,
Nem mesmo para o esquecimento.

(Wendel Valadares)

Desejo

E neste momento inescrupuloso em que me encontro
Inflamado de anseios infames e irrealizáveis
Petrificado diante das minhas ânsias despudoradas
E impreenchíveis
A única melodia capaz de me excitar
Do dedão do pé até a os cabelos
É o som da sua voz.

(Wendel Valadares)

Reconfortante

Estou exausto, excessivamente esgotado,
Cansado de tantas tentativas vãs, inúteis,
Tenho as mãos já trêmulas e a visão turva,
Meu rosto tostado pelo sol fulgurante
Revela nitidamente a minha fadiga.
Caminhei uma vida inteira sem rumo
E é como se eu nunca tivesse saído do lugar,
E eu preferia nem ter saído, mas parti.
Minha sede me deteriora aos poucos,
Mas não é de água, ai quem me dera o fosse,
Beberia um rio inteiro e os seus frescores,
Minha ganancia não é deste mundo,
Tenho sede de uma verdade extramuros,
Um elixir místico, nascido de fontes raras.
Estou cansado e hoje faz um calor varonil,
Meu animo evapora e se esvai cada vez mais,
E as pessoas vazias me sugam os sucos da alma.
Estou farto dessa gente fútil e estéril,
De cabeças e corações ocados,
Dessa facilidade superficial que impera,
E por causa disso eu sofro e padeço só.
Ninguém me suporta, nem eu mesmo,
Não sou mais solicitado, convidado,
Passo longe de ser escolhido,
Fui abandonado às minhas verdades
E filosofias particulares.
Será que é justo o que preço a ser pago?
No auge da solidão e da carência eu clamo:
Deem-me um abraço e só,
Se sou ouvido, não tenho certeza,
Mas que não me atendem, afirmo.
Ó pai, pergunto a Vós, já que me quisestes,
Por que, pra que, pra quem?
E a resposta me vem antes da interrogação:
- Pra mim.
Que conforto me dá quando me falas
Meu caminho e meu fim és Tu,
Não foi em vão a estrada que andei,
É que a chegada ainda se adia,
E o sentindo só é alcançado
Quando a caminhada atinge o ápice.
Vou viver e padecer no isolamento,
Vou percorrer sozinho todas as estradas,
Vou consolar meus prantos e
Entoar meus risos só pra mim,
Mas não vou me contradizer,
Há uma voz dentro de mim que grita:
Continua, é por aí mesmo,
E eu escuto e sigo.

(Wendel Valadares)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Poema para cobrar o amor

Hoje em Unaí o dia foi triste como um velório,
Fez calor, choveu e agora um mormaço
Infernal me dilacera os ânimos e os pudores.
Olho para o céu e clamo por nuvens
Mas nem elas resistiram a esse infortúnio,
Deixam nu o azul mal pintado desta tarde.
Meu coração dói e arde, parece ferida inflamada,
Mas anti-inflamatório não me salva desta vida,
Este ferimento não se estanca, vai sangrar até a morte,
Morte de quem eu não sei, mas não a minha, não hoje,
Que não quero saber de findais.
Pretendo ficar feliz e não consigo, tento ficar triste,
Mas são vagos os meus motivos,
Estou mais infernal do que este bochorno e
Mais santificado do que a imagem de São José
Que enfeita a capela junto com as flores.
Aprendo e me prendo ao que sinto,
A solidão não se dá sem o amor,
E carência não é tristeza é ausência.
Será que vale gostar de alguém
Que não gosta de ser gostado, será que é realizável
Esse meu desejo insano de querer amar de graça.
E quem vai devolver o meu afeto, reabastecer as reservas
E me ensinar o que é reciprocidade?
Nem as mitocôndrias incitam meu sorriso nesta hora,
Vim cobrar a conta e quero recebe-la,
Dai-me a paga que é devida.
Se amei de graça
Quero, pretendo, necessito e exijo
Que de graça, alguém me ame
E tenha graça.

(Wendel Valadares)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Motivo do pranto

Faz alguns dias eu quero chorar e não sei,
Perdi o tom, perdi o som, perdi as estribeiras,
Mas não perco a vontade.
Enquanto o choro não sair eu não suspiro.
Respiro um ar sujo que vale apenas o sopro do momento.
No meu pulmão miúdo não cabem os dois, choro e ar,
E já não cabem também as palavras de consolo,
Que pra mim de nada servem, aliás, me enfastiam.
Quero chorar três horas sem parar e depois ficar mudo,
Se ninguém olhar pra mim eu choro de novo até cansar,
E quando já não tiver mais lágrimas,
Quero deitar meu corpo exausto cheio de suspiros aliviados
E descansar três dias initerruptamente.
Três dias me bastam para recuperar o fôlego.
Quem me olhar chorando vai me julgar fraco, fresco,
Sentimental, afetuoso, afetivo, afável, louco.
Eu não me importo, eu não ligo, eu nem vejo,
Quero cobrir minhas retinas com as águas salgadas
E regar minhas bochechas, feito cachoeira na cheia,
Quero derreter-me num pranto desesperado
E banhar-me neste vale tenebroso de lágrimas.
Quero chorar sem motivo, com motivo, pelo motivo,
E talvez eu até seja o motivo.
Quanto mais eu guardo o choro, mais ele cresce,
Parece pecado escondido querendo aparecer,
Parece erva daninha no meio da plantação de arroz.
Sorrir é fácil, qualquer um consegue a hora que quiser,
Eu posso estar padecendo em dores e ainda assim sorrir.
Tenho até um sorriso ensaiado que uso pra sair na rua,
Franzo a testa, mostro quatro dentes e meio e
Tento arregalar ao máximo os olhos.
Chorar já não é tão simples assim,
A menos que se tenha vocação para carpideira,
O que não é nem de longe o meu caso.
Eu até tenho o choro, mas ele fica tão bem guardado,
Tão confortável dentro de mim que não sei expulsá-lo.
Chorar pressupõe uma sinceridade que poucos experimentam,
E os raros que me veem chorar, compartilham de uma
Intimidade muito restrita, um universo particular.
Bem aventurados os ombros que acolhem o choro,
Estes sim são dignos da palavra amizade e
Serão reconfortados no momento oportuno.
Mas volto à minha divagação, agora sem muitas teologias,
Filosofias, teorias e receitas prontas, quero chorar,
Derreter meu pranto, entoar o meu lamento.
Quero chorar porque o choro existe, eu não sou triste.
Quero chorar porque dentro dessa armadura que luta
Todos os dias, existe um coração que ainda é de carne.
Quero chorar porque eu não sou mais criança e não tenho
Mais o meu colo seguro e afável.
Quero chorar porque o céu é tão longe e eu o vejo tão perto.
Quero chorar sem ter que explicar o motivo do choro,
Quero chorar até de tanto rir.
Quero me diluir em lagrimas e lavar a alma.
Quero me aliviar inteiro, quero chorar.

(Wendel Valadares)

A saudade

A saudade invade, encarde, alarde,
Arde, urde, urge, ruge, grita,
Braveia, esperneia e chora.

A saudade incomoda, aperta, afrouxa,
Atenta, tenta, inventa e reinventa,
Aporrinha, desatina e desassossega o sossego.

A saudade lembra, relembra, revive,
Mostra, aponta, desaponta,
Encanta e desencanta,
Conta e canta a ausência.

A saudade pede, busca, clama,
Chama, carece, aflora, deplora, deflora,
Ignora e implora a presença.

A saudade é o amor disfarçado!

(Wendel Valadares)

Sobre o amor

O amor quando pede
 Ganha, mas não se satisfaz,
Quer ganhar sem pedir,
Deseja ser surpreendido.

O amor quer se dar
Sem cobrar recompensa alguma,
Mas quando é retribuído floresce e frutifica,
Parece criança satisfeita.

O amor é de graça e custa caro,
Mas dá pra pagar de pouquinho em pouquinho.

O amor, de tão grande é pequenininho.

(Wendel Valadares)

Pois fé é bem isso,
Uma certeza reconfortante de que todos os abraços
Que nos são roubados nessa vida sofrida,
Nos serão recompensados em dobro,
Na vida prometida.

(Wendel Valadares)

Maturar o viver

Dizem que com o passar dos anos
As pessoas vão ganhando maturidade,
Vão aprendendo a viver e conviver,
Absorvendo as lições que a vida oferece.
É como colher o fruto maduro
Na hora exata, perfeita.
Eu devo estar andando ao contrário
- penso eu -  ou até de trás pra frente.
Quanto mais eu amadureço
E passo pelas provações que me cabem,
Menos eu entendo a vida, o mundo, as pessoas,
Menos eu entendo de mim mesmo.
Por vezes esqueço quem eu sou,
O que eu quero, quais são os meus sonhos.
Perco-me nesse emaranhado de gente
Indigente, exigente, inteligente,
Que mal sabe de onde veio,
E muito menos aonde quer chegar,
Que muito viveu e pouco extraiu da vida.
Diante desse caloroso universo frio
Tenho apenas uma certeza plausível:
Maduro é só o mundo e o fruto,
Nós, homens mortais e finitos
Estamos constantemente
Amadurecendo.

(Wendel Valadares)


terça-feira, 20 de março de 2012

O Navegante

A barca segue a rota perene, costumeira,
O mar é infinito e denso, misterioso,
O sono é leve e descuidado, brando,
E os olhares desatentos.
Diferente do olhar da mãe,
Que cuida com zelo da sua cria,
Artista e obra, terminadas.
O porto seguro é por vezes perigoso,
Não permite chegadas póstumas,
É uma defesa inconsciente,
Acaso foi ferido n’algumas chegadas
E a cicatriz é indelével.
Quem navega sem múltipla consciência
Corre o risco de jamais atracar.
Náufrago de mar solitário
É sina de quem não soube navegar. 


(Wendel Valadares)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Mal de quem ama

Mata de uma vez essa minha carência
Corrosiva e inoxidável
E me salva da perdição da tristeza,
Ajuda-me a ser gente conformada.
Não! Conformada não, satisfeita.
Cura meu descontentamento
E preenche o meu vazio
Com o alimento que só tu tens.
Sacia minha saudade
E devolve o sorriso pro meu rosto.
É tão pequeno pra você,
Diz-me: oi meu querido
E refaço-me!

(Wendel Valadares)

Abraço

Quatro mãos, quatro braços,
Dois corações, dois corpos,
Um olhar, uma alma.

(Wendel Valadares)

Cegueira

Nunca me esquecerei desse acontecimento,
Na vida de minhas retinas tão fatigadas,
Que havia pedras no meio do caminho,
Mas ninguém as via.
Não eram cegos, só não sabiam enxergar.

(Wendel Valadares)

Meio termo

Há um pressuposto,
Predisposto e presumido
Que permeia
O meio da palavra,
Um mediano entre a voz e a intenção,
É lá que anseio habitar.

(Wendel Valadares)

domingo, 18 de março de 2012

Intento de chorar

Deixe-me chorar, eu imploro.
Dê-me um ritmo, um tom desentranhado,
Pra eu cantar meu lamento inesgotável
E diluir-me em lágrimas inconsequentes.
Acham que eu sou só riso?
Eu choro e padeço em prantos inexprimíveis.
Nem a primavera é eterna,
Por que o haveria de ser o meu sorriso.
Não é que eu não seja feliz, eu sou,
E choro até de alegria,
Porque terra fértil tem que ser regada.

(Wendel Valadares)

Auto-estima

Algumas pessoas desaprenderam de dizer obrigado,
Mas isso não me retém,
Meu coração compassivo e afável
Me faz ir além das retribuições.
Se já não posso mais acreditar em todos,
Digo sem falsa modéstia:
EU ACREDITO EM MIM!


(Wendel Valadares)

sábado, 17 de março de 2012

Companheira Amiúde

Já são três horas da madrugada e eu não durmo
Não que o sono não tenha vindo,
Ele veio, amiúde e perspicaz,
Mas mandei-o embora pra longe de mim.
Eu quero dormir, mas não posso,
Não consigo fechar as pestanas e repousar.
Há um som de festa quebrando o silêncio,
A chuva vai e vem, indecisa e perene.
Sinto fome, frio, calor, cansaço, vazio,
Tenho sede e sonho infinitos,
Minha cama é meu túmulo aberto,
Nela repouso meu corpo estafado
E ressuscito, todas as manhãs.
Arranco da face esse sorriso ensaiado,
Minha nudez é cética e alva
E o meu reflexo sou eu sem escrúpulos.
Ninguém me esperava essa noite,
Cheguei em casa e eu era o todo
E preenchi todos os espaços, menos o meu.
Há um oco no meu estômago,
Uma fome colossal de um não sei o que,
Que eu devo buscar não sei aonde,
Pra fazer sabe-se lá.
Tenho respostas sem perguntas
E vozes secas, sem melodias.
Observo os porta-retratos
Que tenho em meu quarto,
Guardam risos congelados e
Olhares estáticos. São mudos.
Estou mais silencioso do que a noite,
Quero falar e não sei
E se sei não há pra quem dizer.
Divago nessa página branca
As vozes que calo todas as noites,
É dela que ouço conselhos prudentes.
E agora que a hora já vai adiantada,
Eu cesso meu falar, emudeço inteiro,
E entoo um lamento feliz,
Boa noite página,
Obrigado pela companhia.

(Wendel Valadares)


Dias de Paz

Há dias, não específicos, mas costumeiros,
Em que a solidão vem me ser companhia,
Vem unir-se a mim nessas noites densas
E adentrar o meu universo particular,
De ânsias e ausências exaltadas,
De um querer, não sei de onde,
Que me fustiga os calcanhares
E me aporrinha todo o sentir.
Afloram-se as carências
E sobressaltam-se os vazios
E por hora, padeço em dores,
Não dor física, mas da alma.
Mas de repente, como num relance,
Vem você com esse olhar místico
E esse sorriso de acalmar os ânimos
E me envolve num abraço esdrúxulo
E me arranca do cerne da solidão.
Nada me falta, fico seguro,
Basta eu me ver no seu olhar
E a minha alma se alumia,
São dias de paz.

(Wendel Valadares)


Infância

Quem é que se encanta com a goteira da chuva
Pingando em ritmo metódico no meio da sala
E com o barulho do vento riscando o telhado
E cria historias de navios e marinheiros
Cruzando o imenso oceano contido numa poça d’água?
Ó tempo, me devolve minha meninice.

(Wendel Valadares)


sexta-feira, 16 de março de 2012

Cura pra todo mal

Não me dê um diagnóstico
Quando eu disser que não estou bem
Deixe suas conclusões para o meu epitáfio
Quero é o seu abraço infinito
E o seu olhar compassivo
Não diga que me entende
Nem eu me entendo
Diga apenas que está aqui
E por favor, esteja!

(Wendel Valadares)


quinta-feira, 15 de março de 2012

Canto de querer bem

Sem verso ensaiado
Nem anverso rabiscado
Sem meras palavras minhas
Sem falar nas entrelinhas
Isento de construções módulas
Livre de subjetividades
Imune de desarrimos
Longe dos desalinhos
Sem imposição da escrita
Sem obrigação da impressão
Quero agora o sentir das coisas
Quero brisa soprando meus cabelos
E sombras me protegendo do sol
Quero águas puras e cristalinas
Quero as alegrias natalinas
Quero todos os chocolates da páscoa
E os mimos que cabem as crianças
Quero guardar todas as lembranças
Dos abraços que em mim se findaram
Quero a doçura dos sorrisos límpidos
E os olhares encantadores
Quero o desabrochar das flores
E o canto dos pássaros alegres
E dos tristes também
Quero chuvas perenes
E lares aconchegantes
Quero praias de areia branca
E água de coco gelada
Quero tesouros inestimáveis
E conchinhas trazidas do mar
Quero todos os quereres da vida
Quero um dia poder lembrar
Que eu vivi tudo que o que se há de viver
E assim crendo, jamais esquecer
Que a beleza está nos olhos de quem vê
E o encanto só depende do meu canto
E que é na distancia de cada sonho
Que descobrimos a beleza dos caminhos.

(Wendel Valadares)


Agraciado

De todos os sentimentos mais puros e sinceros
Quem habitam em meu coração
O que se sobressalta nesta hora de memórias vivas
E ânsias inflamadas
É a gratidão.
Poderia citar o amor, a esperança, a amizade
E tantos outros nobres sentimentos
Que coabitam em mim
Mas neste momento em que vivo
Exalto hoje, sem medo de pecar com as palavras
Que tenho dentro em mim, gratidão.
Sou grato pelo meu sentir
Pela minha disposição de me modificar
De me melhorar cada vez mais
De eliminar do meu interior tudo aquilo que me retém
Tudo aquilo que me afasta de quem eu sou
E pela minha capacidade de transformar
Todo e qualquer sentimento ruim
Em algo que me edifica, me fortalece
Sou grato por poder e saber sentir
Amor, esperança, amizade
Raiva, desespero, solidão
E ainda assim me encontrar dentro de mim
Gratidão é dom que flui do meu coração.


(Wendel Valadares)


terça-feira, 13 de março de 2012

Alegria besta

Hoje acordei pensando em mitocôndrias,
Enquanto escovava os dentes, indaguei: - Pra quê?
Dei risada sozinho e achei bom até.
Tomei banho, me arrumei e fui trabalhar,
No serviço tive pausa para o café.
Tomei leite e comi pão de queijo quente
E todo mundo reparava no meu sorriso meia boca,
Querendo saber o que era. –Bobeira atoa – eu respondia.
E segurava firme pra não rir direito.
Mais tarde, sentado à minha mesa,
Lembrei-me da “bendita” e ri até levantar a cabeça,
Fui embora rindo pros postes.
E agora, depois de um dia inteiro corrido,
Escovo os dentes pra ir dormir e me pergunto:
- Pra quê? Ai, ai.

(Wendel Valadares)

Estrutura Poética

Muitas vezes eu quero me forçar a escrever,
Tento obrigar a minha mente
A juntar palavras e construir estrofes.
Diabo, Rapadura, Outono,
É tudo que sai por hora.
São palavras vagas
Longe passam de ser verso
Mas quem pode afirmar
Que não são poesia.
Quem tem a receita?

(Wendel Valadares)


Encantamento

Há um sorriso novo morando em meu olhar,
Faminto de faces límpidas e brilhos reluzentes,
Encantado com a miudeza das coisas,
Esperançoso de enxergar todas as belezas.
É o encanto do novo de novo e do novo.

(Wendel Valadares)


Duelo de Valores

Olho para o céu arfado de suspiros
E digo, exaurido de culpas aleivosas
 - Que Deus me perdoe, mas hoje eu matei.
Matei? Matei. Matei!
Rompi os pudores da minha criação virtuosa
E braveei, rígido feito fera ferida.
Extirpei as estacas que estavam cravadas em meu peito
Arranquei as lanças cicatrizadas neste cerne despudorado
Dores estancadas lancei-as fora de uma vez por todas.
A muito eu já havia morrido, porém dormente eu não sentia.
Mas hoje recobrei meu sopro e meu alento
E guarneci-me de uma força sobre-humana
Que me ajudou a desbravar meus imortais
Metei-os todos, um a um fui derrotando-os.
E quem há de me julgar culposo ou assassino
Neste celeiro de valores invertidos
Julgo-me herói – sem falsa modéstia –
Um gladiador de glórias dignas
Enfrentei os labirintos mais densos desta terra
E penetrei os oceanos mais profundos
E agora, nesta hora ditosa de descanso
Solto um brado de alívio e vitória
Eu os matei!
Matei dentro de mim tudo que era vazio de amor
E de agora em diante vou ser quem eu devo ser
Vou ser eu de verdade e as minhas circunstâncias

(Wendel Valadares)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Canto para encontrar o amor

Cessou-se o canto, findou-se o pranto
E a dor de outrora é leve palha do acaso.
Veio a morte envolta em sutilezas
E ofereceu-me sua seda sedutora,
Vesti-a e não a pude mais tirar,
As medidas eram tão exatas,
Quanto os sonhos que calei sozinho
E os risos que guardei pra mim.
Não há choro que comova meu corpo,
Estático, exótico, exaltado,
Não há lamento que me alente a vida,
Nem meu sopro eu tenho mais.
Resta-me, pois seguir a barca perene
E adentrar onde me cabe.
Lanço mão do meu olhar sedento
E rogo a mim copiosa compaixão.
Que me caiba uma estadia eterna,
Diante do Pai das Misericórdias.
Pecador eu o sou desde o ventre,
Basta-me apenas contar com o amor.
Esta chama que me arde as entranhas,
Esta saudade da não saber de onde vim,
Essas mãos de estender para o outro,
 E estes pés de levar compaixão.
Esta mente perversa e pervertida,
Que me aporrinha antes de adormecer,
Que me comove e me arrepende
E me faz arrepender.
É este o amor que tenho
E ele que clamo a mim.
Não me deixe padecer sofrimento,
Esta vida sofredora
Por si só é um mar de angustias.
Ó Deus, Vós sois o amor,
Seja-me nesta hora em que o invoco,
Para que eu também o seja
E amor sejamos.

(Wendel Valadares)

Porta do Céu

Hoje de dia fez calor, parecia que o sol estava caindo,
Olhei pela janela e vi as plantinhas da minha mãe,
Murchas, que nem eu fico quando me põe de castigo.
De noite choveu fino, o barulho no telhado era fraquinho, fraquinho.
E da janela eu via uma bica d’água na casa da vizinha
Que chovia mais forte do que a chuva.
Fiquei ali olhando e sentido o cheiro de terra molhada,
Senti tanto que até me deu vontade de comer pamonha.
Indagado com os acontecimentos que via lá fora,
Pensei com meus botões – isso só pode ser a porta do céu –
Não encosta no chão e nem há muita gente passando por ela,
A gente só olha e fica querendo o que está olhando.
De hoje em diante eu só passo pela janela.

(Wendel Valadares)

domingo, 11 de março de 2012

Voz de fazer dormir

Deixa-me dormir do meu jeito, pare de ditar as regras,
Cale a boca – digo trépido de raiva -.
Sua voz me incomoda, esse doce tom de sonsice,
Seus olhos de gente calma.
Quero gritar até te morder de ódio, morrer eu não morro,
Mais fácil eu te pirraçar até você ficar rouca.
Não vê que já é tarde, temos que dormir,
Conta-me uma história, careço da sua voz só pra me acalmar,
Como é que se dorme mesmo?

(Wendel Valadares)

Pedido

Meu Deus me dá um choro de menino com medo da noite.
Me dá um medo, me cura de ser forte.
Me deixa sentir frio até bater queixo.
Me deixar suar, escondido embaixo da coberta.
Me dá um irmão pra dormir no pé da cama
E me chutar a noite toda.
Me dá um sono de dormir bem.
Meu Deus me dá um céu!

(Wendel Valadares)

Lamento da inocência

Meu Deus me livra da mediocridade desses dias supérfluos,
Afasta-me dessas pessoas que só tem fome de matéria.
Me dá uma corda e um arco de bambolê,
Me canta a ciranda do passa anel e corre cutia.
Ó pai, me manda comprar um quilo de açúcar
Na venda ali da esquina e trazer o troco de bala macia.
Ó mãe, pega o chinelo pra me mandar tomar banho,
Esfrega meus pés com a escova dura, pra limpar direito
E arruma meu cabelo que ainda nem sei pentear.
Ó Deus, ó pai, ó mãe, me deixa ser menino de novo
Me pega no colo, me cheira, me adula.
Ó menino.

(Wendel Valadares) 

Choro Guardado

Tenho um choro engasgado,
Que por ora até acho que comi espinha de peixe.
Um nó na garganta daqueles que nem deixam beber água,
E tem horas que esse nó me sufoca até a pontinha do fígado.
Preciso por em dias os meus choros.
Meu tempo finito se esvai feito folha solta no vento
E tenho dívidas a acertar com o destino.
Meu riso bom de todo dia não anda a saldar meus débitos,
Quem é que vai me cobrar essa conta no dia do acerto?
Ó Deus, ó Pai, olha pra mim com olho de mãe preocupada.
E vê que choro com sorriso na boca.
Tive que virar homem velho pra conseguir comer
E homem velho não chora na rua.

(Wendel Valadares)

sábado, 10 de março de 2012

“Mater Luctantem”

Eva e Maria,
Dois modelos de mulher.
Duas mães da humanidade,
Batalhadoras no sentido mais pleno da palavra.
Minhas avós!
Eva me cuida do céu
E Maria é meu anjo aqui na terra.
Trago a memória a vaga lembrança,
Da vó Eva aprendendo a escrever o nome
E a alegria da novidade estampada em sua face.
E vó Maria, fiel a Deus como a Mãe Maria,
Mulher de fé, caridosa e simples,
Tem bondade estampada no rosto enrugado
E generosidade na palma da mão calejada.
Duas forças divinas neste cerne de vida,
Dispostas a acalmarem as águas agitadas.
Duas guerreiras desprovidas de armaduras,
Enfrentando os mistérios da vida.
Duas colossais mulheres,
Que souberam ser grandes
Na pequenez da vida.

(Wendel Valadares)

Contraversão

Padeço vagarosamente estático e trépido,
Nesse mormaço que me constipa o intestino,
Tenho a face rubra e espantada,
Enxergando a discrepância dos sentires.
Por fora um calor de exaurir os ânimos,
Por dentro um esfriamento de endurecer os músculos.
Que contradição paradoxal é essa afinal,
Tendo invertido as sensações perenes?
O frio ameno havia de se achar era aqui fora,
Dentro de nós, seres compassivos,
O que carece habitar é o calor.
Coração é músculo,
E músculo, quando aquecido,
Alarga-se.

(Wendel Valadares)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Louvável

Bendito seja
Deus
Verbo encarnado
Canto poético
Verso lírico
Rima coesa
Bendito seja
Amém.

(Wendel Valadares)

Carente profissional

E quem há de me estender um olhar benéfico,
Nas horas em que o coração fica espremido
E os olhos cantam saudades,
Enquanto a voz fica comovida,
E os braços já não alcançam o longe.
Não quero palavras de conforto e autoestima,
Não busco as compreensões que me são devidas,
Diante das adversidades que se me impõem o viver.
Careço é de pousar meu riso num ombro amigo,
E cessar meu choro dissolvido no abraço,
E apertar as mãos estreitando o laço,
E entoar meu canto diante do afeto.
Minha fome é de amor reciproco
E sentimento compassivo.
E se há um vago é porque eu o cultivo,
E que me julguem desvairado, tresloucado,
Exorbitantemente demasiado,
Eu espero sempre do amor.

(Wendel Valadares)

Expressão Dúbia

Há uma verdade camuflada na palavra amor
Que a muito foi causa de grandes controvérsias
Sua plenitude e sua ausência
Não conseguem alcançar a precisão
E tudo se enleia.
Amor é esse meio termo entre tudo e nada.
Não pode ser apenas tudo,
Pois carece de ser completado.
Não há como não ser nada,
Pois a própria vida é um ato de amor.
De tanto procurar lucidez, acabamos por desamar ,
Se é que isso é mesmo plausível.
Descansemos, pois nossas retinas fatigadas
E nossas ideias exauridas
Nesta busca de entender
O que se há de mais abstrato
E concluamos, por assim dizer:
Deus é amor!

(Wendel Valadares)

Infindável dom de ser

Escrevo porque preciso lembrar
Que até outro dia, eu era menino,
Correndo com o braço esfolado
Da queda de bicicleta.
Insisto em trazer à memória,
O gostinho bom de sentar no colo do pai
E me sentir protegido de todos os males.
Escrevo porque necessito resgatar a lembrança
Do beijo da mãe me levando na escola
No meu primeiro dia de aula.
Registro as lembranças significativas,
Não só as boas, mas as importantes,
Que me fazem entender o real sentido da vida,
Que me conduzem às minhas verdades
Às minhas essências, minhas raízes.
Escrevo, porque assim torno infinito,
Os momentos finitos da vida.
Eterno é tudo aquilo que é terno.

(Wendel Valadares)


quinta-feira, 8 de março de 2012

Olhar tenro

Passei devagar, pra prestar atenção nos seus rascunhos,
Já que tanta gente faz questão de ler os seus escritos
Ver aquilo que já está exposto, à mostra.
Eu peço licença para adentrar os seus esconderijos
E perceber as minucias e os detalhes das entrelinhas.
Careço só de um cantinho, um lugarzinho qualquer,
Pra eu pousar o meu olhar paciente e te olhar devagar.
Olhar com afeto e pureza, com olhar de amigo,
Sem pensamento de recompensa, só de bem querência.
Prometo nem ser notado, pode até me deixar de lado,
Basta-me apenas fazer-me presente, ser presença.
Vim buscar seus afetos, seus gestos, seus valores.
Vim deixar minhas essências, minhas carências, minhas valências.
Eu te deixo ser, deixa-me ser também.

(Wendel Valadares)


Nostalgia

Gosto das tardes ensolaradas,
Elas têm um sabor nostálgico,
Remetem-me a um passado ditoso,
De valores ora adormecidos.
Quando o sol vai se deitando,
Entregando-se nos braços do infinito
E o céu fica todo alaranjado,
Lembro-me bem dos dias de outrora,
Em que meu pai, minha mãe, eu e meus irmãos
Sentávamos à porta de casa,
À sombra de uma arvorezinha varonil
Que meu pai mesmo havia plantando.
E conversávamos entrosados,
Contando as peripécias da vida,
Ouvindo histórias de suas meninices,
Enquanto mamãe descascava laranjas,
Uma para cada um dos filhos.
O sol, a brisa, as nuvens,
O céu alaranjado, as mãos,
A mãe, as laranjas, os meninos,
A calma, a alma, a paz.
E de vento em prosa
O dia seguia corriqueiro
Anoitecia.

(Wendel Valadares)


quarta-feira, 7 de março de 2012

Mulher

Palavras não são suficientes pra lhe definir
Fotografias não conseguem mostrar toda a tua beleza
Adjetivos são finitos diante da sua infinidade
Se em algum instante a Terra pode ser comparada
A um jardim, é graças a você Mulher
Flor da vida que transforma este deserto
Num lindo jardim florido
Parabéns pelo seu dia!

(Wendel Valadares)

Em homenagem à todas as mulheres, flores que encantam esse jardim chamado mundo!!!



Voz da alma

O silêncio é o meu canto mais lúdico
Nele não há desafino ou desarrimo
Há apenas uma verdade essencial
Que supera o significado das palavras

No silêncio o que impera é o sentido
Quando há muito a se dizer
Ou nada a declarar. Eu calo!
E é sempre assim, calado, que eu falo

Falo com a alma e com a face
Quem sabe interpretar os silêncios
Consegue ouvir meu choro ou meu riso
Um bom entendedor vê além do que eu aviso

Vê as entrelinhas das letras que não são escritas
Ouve o som das vozes que não são ditas
Percebe os ecos dos vazios e dos excessos
Enxerga as minhas verdade e os meus intentos

É ele o espelho de quem sabe ter reflexo
Ensina-nos, sabido, o poeta dos sertões
Nas divagações de Guimarães é que se lê:
“O silêncio é a gente mesmo demais”

(Wendel Valadares)

terça-feira, 6 de março de 2012

Trégua

Quero o que preciso
Ou preciso porque quero
E até quero e preciso
Mais preciso do quero
E por hora também quero
E também preciso
Boa noite
Vou dormir.

(Wendel Valadares)

Deixa-me ser

Peço uma pausa no tempo
Cesso meu canto ao relento
Digo sem cisma ao rebento
 - Eu não aguento!
Busco outra vez um alento
Dá-me um novo alimento
Livra-me deste tormento
Traz-me um contentamento
E muda o meu pensamento
Quero voar feito o vento
Deixa-me ser no momento
Toda leveza que tento

(Wendel Valadares) 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Pressa

Eu quero a tardança das horas
E a prorrogação, se possível.
Quero domingos infindáveis
Regados de lazer e família.
Quero madrugadas infinitas,
Escoltadas de amigos
E conversas constrangedoras.
Quero que o dia seja pra sempre
E que a noite nunca acabe.
Eu quero que a vida
Seja do tamanho do céu.
Quero ler todos os livros do mundo
E escrever todas as palavras possíveis,
E as impossíveis também.
Quero sentir todos os sabores,
Suavemente.
Quero pintar todas as cores,
No meu próprio arco-íris.
Quero que o tempo seja agora,
E somente agora,
Não tenho pressa!

(Wendel Valadares)

domingo, 4 de março de 2012

Alma de amigo

Há um laço de ouro
Unindo os corações com afeto,
Um querer quase divino
Em ser todo do outro,
Em emprestar o tempo
E ser presença viva,
Nas horas boas e ruins.
Uma ligação mística,
Que atrai as almas semelhantes.
Um desejo gerado no coração de Deus,
De ultrapassar os laços de sangue.
Um vínculo da alma,
Que quer ser uma em dois,
Sem perder a essência.
Um amor com gostinho de céu,
Que vive do desinteresse
E se fortalece no bem querer.
Amigo é anjo,
Amigo é irmão,
Amigo é alma!

(Wendel Valadares)

Daqui pro futuro

A face estática,
A voz apática,
Olhar desconfiado,
Como quem pede a prova.
Fechei os olhos, bem forte,
E abri devagarinho,
Não seria uma miragem?!
Tentei me mover e não pude,
As pernas não obedeciam,
Levantei as sobrancelhas,
Franzi a testa, olhei fixo,
Ali estava, à minha frente,
Ao alcance das mãos,
Aquele milagre esplendoroso.
Duas joaninhas pousadas
À folha d’uma planta qualquer,
Gastando o tempo.
Pensei comigo:
Em tempos futuros,
Acontecimentos assim
Serão apenas lembranças.

(Wendel Valadares)

sábado, 3 de março de 2012

Desejo carnal

Desejo agora, com sede carnal
As volúpias de um verso exótico,
Sussurrado ao pé do ouvido
Com estribilhos enfatizados,
Que arrepiam os pelos da nuca
E incorrem sensação deleitosa.
Puro verso puro é o que almejo
E o meu ensejo me exprime.
Quero o prazer da prosa boa,
Encarnada num arranjo poético,
Incrustada num dizer bendito.
Quero voz terna e olhar místico,
A tênue presença do corpo,
A infame cobiça do querer.
Vou despi-la sem pudores,
Paz e guerra aspiro,
Quero a poesia nua,
Desposá-la-ei.

(Wendel Valadares)

Tentativa de entender a Poesia

Uma aranha tecendo sua teia.
No canto da parede do quarto
É uma mãe cobrindo seus filhos
Nas noites frias de junho.
E beijo de mãe faz dormir os leões.

(Wendel Valadares)

Desordem

Rezo um verso ensaiado,
Peço perdão pelos erros futuros
Mas a consciência ainda não dói.
Quero um álibi para os meus devaneios,
A vida é minha, vá cuidar da sua.
Mas não me deixe aqui só,
Tenho medo do escuro.
Só gosto das noites claras.
A mãe rezando no quarto,
O pai cochilando no sofá,
Enquanto na televisão, o jornal
Divaga as tragédias cotidianas.
Tenho desejos insanos
De mudar a ordem das coisas;
Chacoalhar e virar de ponta cabeça,
Criar problemas insolúveis.
Quero mover as pessoas,
Para que saiam de órbita.
Quem sabe girando ao contrário,
O mundo volte pro lugar.

(Wendel Valadares)

Candura

Caminhando rotineiro pelas ruas frias
Num calor de fazer crescer sede brava
Vi uma menininha com sorriso aberto
Negrinha do cabelo espetado
Roupinha encardida e feliz
Chegara ali o moço do mercado
Entregando pra família a compra do mês
Quando a criaturinha sapeca
Viu no fundinho da caixa
Um pacote de bolacha recheada
Havia olhos famintos e felicidade estampada
Diminuí o passo e olhei bem
Tinha de morango e chocolate
Quem disse que falta alguma coisa
Bastou o entregador gritar:
Ô de casa!
Já se via alegria e dente amarelado

(Wendel Valadares)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Perplexo

Calado é que falo, palavras me roubam.
Tenho medo dos olhos fechados,
Espelhos da alma obscura.
Leveza me traz o sorriso,
Tempestade acalmada.
Infinito é o sonho e o sono.
Dor é ponto de vista,
Vejo a luz no fim do parto,
Clarão que amedronta.
Partir é voltar ao inicio,
Começo pelo fim e termino.
Sentido é quando eu sinto.
Ouvir é oficio de surdo.
Palavras são vagas, completo é o infinito.
Coração é músculo, necessita alargar-se.
Pequena é a vida contada nos dedos.
Tem gente cheia de vazios,
Fico perplexo.
Sou catador de valores
E Juntador de pedaços
Descobri que pra ser inteiro,
Preciso dividir.

(Wendel Valadares)

Excessos

Desafino e desatino
Nesse arrimo de menino
Foi o acaso do destino
Que me fez brotar do limo
E o que anuncio afirmo
E pra verdade atino
Cantando a vida afino
Ressoante som do sino
Foi o que me fez ser
É só o que eu pretendo
Viver é demasia
Amar é exagero
Sonhar é passageiro
Felicidade é o que fica

(Wendel Valadares)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Olhar calmo

No caminho que passo diário
Correndo pra alcançar o tempo
Tem um canteirinho com flores lilás
Sorrindo e dançando ao vento
Florezinhas singelas e descompromissadas
Que amiúde encantam os passantes
Dão alegria aos caminhos tortos
Ressoam sonhos em tons vibrantes
Quem muito passa e não olha calmo
Não se extasia na simplicidade
É só um canteirinho desenganado
Perdido em meio à enorme cidade
Passei apressado por muito tempo
Por vezes atropelando as flores
Mas num instante em que eu olhei bem
Enxerguei o que a muito não via
Havia tons e cores em meio ao cinza
Já exauridos ao calor do sol
Guarnecidos de uma beleza varonil
Disfarçada na pequenez de cada pétala
Senti vergonha do meu olhar pobre
Nesta ânsia de beleza que afirmo ter
Não soube achar quem me vislumbre a vista
Perdi grandezas por não saber ver
Flores são anjos disfarçados
Tem a missão de nos fazer melhores
E Fazem!

(Wendel Valadares)